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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Cosmologia Tupinambá- Antes de Galileu- Nosso Ano Novo Real
No século XVII, o frade capuchinho francês Claude D’Abbeville escreveu uma importante obra sobre os tupis do Maranhão. Em Histoire de la mission des pères capucins en l’isle de Marignan et terres circonvoisines où est traicté des singularitez admirables & des moeurs merveilleuses des indiens habitans de ce pais, de 1614, D’Abbeville nos apresenta, no capítulo 51, uma relevante descrição da astronomia tupi. E mostra admiração ao se referir aos tupinambás em várias passagens da obra, como, por exemplo:
São grandes discursadores e mostram grande prazer em falar. Fazem-no às vezes durante duas a três horas seguidas, sem hesitações, revelando-se muito hábeis em deduzir dos argumentos que lhes apresentam as necessárias consequências. São bons raciocinadores e só se deixam levar pela razão e jamais sem conhecimento de causa. Estudam tudo o que dizem e suas censuras são sempre baseadas na razão. Por isso mesmo querem que lhes retribuam na mesma moeda.
E se surpreende com a acuidade visual dos índios:
Durante nossa viagem de regresso os índios que trazíamos conosco muito antes de qualquer tripulante percebiam os navios no horizonte graças à sua vista maravilhosa. E quando os mais hábeis marujos pensavam ter descoberto terra trepados no alto do grande mastro, os índios sem sair do tombadilho facilmente verificavam não se tratar de terra, porém de acidentes de horizonte ou de simples nuvens escuras. E assim tendo os marujos se enganado várias vezes, apesar de sua experiência, zombaram deles os índios dizendo: “caraíbes osapucai tenhe terre, terre euvac com assupinhé”, isto é, “esses franceses gritam terra terra e no entanto não é terra, mas somente céu preto”. Em verdade, foram os primeiros a descobrir a terra por ocasião de nossa chegada, e muito antes que qualquer um de nós a pudesse ver, e embora muitos na nossa tripulação tivessem excelente vista. Assim como a vista têm eles os outros sentidos do ouvido, do paladar e do tato.
“Poucos entre eles desconhecem a maioria dos astros e estrelas de seu hemisfério; chamam-nos todos por seus nomes próprios, inventados por seus antepassados [...]”.
O planeta Vênus é conhecido popularmente como “Estrela da Tarde”, ou como “Estrela da Manhã”, dependendo da época do ano em que aparece no céu: de manhãzinha, ou de tardinha. Os tupis deram o nome de Yasseuhtata Ouässou (iaceí-tatá-uaçu) à “Estrela da Manhã” e de Pirapaném à “Estrela da Tarde”, segundo D’Abbeville. Mas, segundo Rodolfo Garcia, os guaranis chamavam Pira-pané ao planeta Mercúrio, que assim como Vênus aparece no céu à tarde próximo ao ponto do horizonte onde o Sol se põe. Como a “Estrela da Tarde” é um astro muito brilhante, de fácil identificação e muito popular, é difícil crer que D’Abbeville tenha se enganado em sua identificação. José Vieira Couto de Magalhães, em seu Curso de Língua Tupi Viva, diz que entre os tupis o planeta Vênus se chama iaci-tatá-uaçú, confirmando D’Abbeville.
Quanto às identificações de D’Abbeville, chama a atenção o seguinte trecho: “Eles têm também uma estrela extremamente brilhante que se chama Yaseuh Tatá Oué, sobre a qual eles cantam um canto em louvor de sua beleza e de seu movimento”. A alusão ao movimento dessa “estrela” que chamou a atenção dos Tupinambá pode indicar que se trata de um planeta e não de uma estrela.
Yäpouykan, a “estrela que se acha sempre diante do Sol” poderia ser o planeta Mercúrio ou Vênus, pois estes aparecem no céu sempre próximos ao Sol: um pouco depois do pôr-do-sol ou um pouco antes do nascer do Sol. Porém, D’Abbeville diz que Jaceí-tatá-uaçu é a “Estrela da Manhã” (Vênus), então Mercúrio se torna mais provável.
D’Abbeville também relata que os Tupinambá identificam muitas outras estrelas, não mencionadas por ele no livro, e que sabiam distinguir perfeitamente uma estrela da outra, e observar “o Oriente e o Ocidente das que se levantam e se deitam no horizonte”.
D’Abbeville nos informa, ainda, a respeito dos conhecimentos dos Tupinambá sobre a Lua: “É certo que não conhecem a Epacta, nem as Idades da Lua; porém, em virtude de longa prática, conhecem seu crescente e minguante, o plenilúnio e a Lua nova e muitas outras coisas sobre o seu curso”. Como D’Abbeville era um frade capuchinho, conhecia bem a epacta e a idade da Lua, pois eram usadas para se calcular as datas no Calendário Eclesiástico. Estas são meras definições, que só apresentam utilidade para calendários lunares ou lunissolares. Acreditamos que os Tupinambá tinham o conhecimento prático, embora não definissem da mesma forma que os europeus. Ou talvez não dessem muita importância, uma vez que utilizavam umcalendário solar, como relata D’Abbeville:
Observam também o curso do Sol, a rota que segue entre os dois trópicos, como seus limites e suas fronteiras que ele jamais ultrapassa; e sabem que quando o Sol vem do polo ártico traz-lhes ventos e brisas e que, ao contrário, traz chuvas quando vem do outro lado em sua ascensão para nós. Contam perfeitamente os anos com doze meses como nós fazemos, pelo curso do Sol indo e vindo de um trópico a outro. Eles os reconhecem também pela estação das chuvas e pela estação das brisas e dos ventos. Eles os reconhecem, ainda, pela colheita dos cajus [...] assim como nós saberíamos aqui pela época da vindima.
Figura 1: O curso do Sol nos dias dos solstícios (junho e dezembro) e equinócios (março e setembro).
A Figura 1 mostra o caminho diário do Sol em dias diferentes do ano. Nos equinócios, o Sol nasce no Leste e se põe no Oeste. À medida que vamos nos afastando das datas dos equinócios, os pontos de nascer e ocaso do Sol vão se afastando dos pontos Leste e Oeste. Nos solstícios, o afastamento dos pontos de nascer e pôr do Sol, em relação aos pontos cardeais Leste e Oeste, respectivamente, é máximo. Essa é a rota que o Sol segue entre os dois trópicos, à qual se refere D’Abbeville.
A divisão do ano em doze meses pode ser uma dedução etnocêntrica de D’Abbeville, pois há estudos sobre calendários de grupos tupi-guaranis atuais que não utilizam divisão em meses como os nossos.
Para finalizar, D’Abbeville nos explica como os tupinambás utilizam também um calendário estelar (sideral):
Além do mais a estrela Seichu começa a aparecer alguns dias antes das chuvas e desaparece no fim das mesmas; ela reaparece acima do horizonte no começo das chuvas do ano seguinte, de onde os maranhenses reconhecem perfeitamente bem o interstício e o tempo de um ano inteiro.
D’Abbeville diz que seichu é a “Poussinière”, as Plêiades, um aglomerado de estrelas muito bonito e conspícuo, facilmente visível a olho nu, na constelação ocidental do Touro: “Temos entre nós a ‘Poussinière’ que muito bem conhecem e que denominam seichu. Começa a ser vista, em seu hemisfério, em meados de janeiro, e mal a enxergam afirmam que as chuvas vão chegar, como chegam efetivamente pouco depois”.
D’Abbeville, porém, diz que seichu começa a ser vista em janeiro, época que não corresponde ao seu Nascer Helíaco, e que também não corresponde ao seu Nascer Cósmico. Como as chuvas começam em dezembro, é mais provável que D’Abbeville esteja se referindo ao Nascer Cósmico. O Nascer Helíaco das Plêiades, em junho, corresponde ao início da época seca no Norte do Brasil.
Por sua vez, Germano Afonso afirma que, para os guaranis, que pertencem à mesma família linguística e possuem sistema astronômico parecido com o dos Tupinambá, o Nascer Helíaco das Plêiades, na primeira quinzena de junho, marca o início do ano.
As Plêiades ficam aproximadamente um mês sem possibilidade de serem observadas devido à proximidade com o Sol. Seu Ocaso Helíaco (último dia em que podem ser vistas, do lado Oeste, logo após o pôr-do-sol) ocorre próximo a 30 de abril, voltando a aparecerem (Nascer Helíaco) próximo a 5 de junho. D’Abbeville diz que seichu “desaparece” no fim das chuvas, o que provavelmente se refere ao seu Ocaso Helíaco. De fato, a estação chuvosa termina em maio.
A relação entre a Lua e as marés também é descrita por D’Abbeville:“Eles atribuem à Lua o fluxo e o refluxo do mar e distinguem muito bem as duas marés cheias que se verificam na Lua cheia e na Lua nova ou poucos dias depois”.
Essa citação tem um significado importante, pois, na época em que D’Abbeville escreveu o livro, as causas das marés ainda não eram conhecidas. Galileu Galilei escreveu o Discorso del flusso e reflusso del maré, em 1616, e uma expansão do Discorso em Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo Tolemaico e Copernicano, escrito em 1632. No Discorso, Galileu diz que “La prima e più semplice delle quali è la determinata accelerazzione e ritardamento delle parti della Terra, dependente dal componimento dei due moti, annuo e diurno”, e que, portanto, não precisa recorrer à “vã quimera do movimento da Lua” para explicar as marés. No Dialogo, Galileu tenta mostrar que apenas pela combinação da rotação axial da Terra com sua revolução orbital – os dois movimentos que Copérnico atribuiu à Terra – os movimentos de maré que observamos podem surgir. Mas a causa das marés é a atração gravitacional da Lua e do Sol, e Newton foi o primeiro a mostrar corretamente como as forças geradoras da maré funcionam.
Maçonaria Gonçalense
Na oportunidade, o Eminente Grão-Mestre do GOB-RJ, Ir:. Eduardo Gomes de Souza, destacou que “A Maçonaria Fluminense, notadamente a de São Gonçalo, nesta noite de grande gala sente-se honrada em participar do Calendário Oficial dos Festejos do 118º aniversário de Emancipação Política Administrativa de nossa cidade, onde grandes maçons desta terra de São Gonçalo dos Amarantes pontificaram e escreveram com letras de ouro os nossos augustos mistérios. Gostaríamos neste momento de acrescentar a importância histórica de São Gonçalo, que teve o privilégio, também, de ter criado a primeira Loja Maçônica da antiga Província do Rio de Janeiro, ao que se sabe criada e instalada nos idos de 1812, (na época vinculada à Corte, subordinação da qual se viu livre em 1835, com Niterói tornando-se sua capital). A primeira Loja Maçônica tinha o nome de Loja Distinta, que possuía liturgia própria e seu propósito era iminentemente republicano. A mais concreta manifestação de presença maçônica em São Gonçalo, no principio do Século XX, ainda hoje está presente no Casarão de Pachecos, construído pelo farmacêutico Augusto Cezário Diaz André na primeira década de 1900 e por ele transformada em hospital durante a epidemia da gripe espanhola em 1º de novembro de 1918. Suas paredes ostentam símbolos diversos da maçonaria, de quem ele foi também um dos seus maiores entusiastas e Grão-Mestre desta Sacrossanta Instituição. E segundo seus historiadores gonçalenses, um dos locais para as realizações das sessões litúrgicas era a Fazenda Engenho Novo, residência de Belarmino Ricardo Siqueira, o Barão de São Gonçalo. Como se observa, a Loja Maçônica Distinta antecedeu as Lojas: Comércio e Artes, União e Tranqüilidade e a Esperança. A partir de hoje, convocamos a todas as potencias regulares da Maçonaria Fluminense que se unam em um elo só para a celebração dos 200 anos históricos da Maçonaria desta cidade, e desde já, convoco a todos os maçons, historiadores, professores, estudantes e a todos os munícipes que busquem maiores detalhes e informações sobre a história da Loja Distinta para que possamos celebrar juntos juntos a importância de tão grandiosa e significativa data dos festejos dos seus 200 anos”.
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